Algo me dizia que aquela noite ia ser longa
Olhava para a lareira e via as chamas dançarem em meus dedos.
O fogo que queimava as toras era como uma moeda para mim,
Erguia o indicador, ela rolava sobre o dedo médio.
Bastava virar a mão, fechar os dedos, a chama apagava.
Ilusão, tudo uma questão de ilusão.
Eu atiçava o fogo, mas eu não podia criá-lo do nada.
Eu manipulava o fogo, mas ele não seguia nada além de seus desejos.
Eu o apagava, mas isso queimava minha pele.
Por mais que estivesse calejado, sempre queimava.
Ainda assim um prazer genuíno me atraia ao fogo.
Servi-me mais uma dose.
A poltrona era confortável e me lembrei de você.
Dos lugares não tão confortáveis onde passamos bons momentos.
Das situações não tão simples de serem resolvidas.
Todas resolvidas.
Nunca soube dançar
Mas ter você é como dançar num baile
A música perfeita, sem interrupções, sem pisões no pé.
Com a pessoa que deveria estar ali comigo, naquele momento.
E aquele momento é o sempre.
Ter você é como ter um fogo eterno.
Que, como a chama que insisto em brincar, me dá prazer.
Ganho forças, para gastá-las contigo.
Nunca soube dançar
Mas danço como fogo em teus dedos.
E quando estou longe, como hoje,
Sinto que a mão se fechou.