Copo de uísque

Um Cara Que Não Presta

Segue a descrição plagiada de um site: "O Cara Que Não Presta ao qual me refiro é aquele desgraçado que é inteligente, engraçado, divertido, culto, acha futebol um saco e nunca fala sobre carros. De preferência, ele nem sabe dirigir."

I
Há histórias que preferimos não contar. Eu mesmo não contaria isso a você, meu filho, se não me sentisse obrigado a fazê-lo. E ao final, nem sei por onde começar.
Com vinte anos todos parecem ser mais fortes, mais bonitos e mais inteligentes do que realmente são. Eu não era diferente. Em 1984 eu estava no meu auge. Por sorte, nunca passei necessidades na vida. E como aficionado por velocidade, eu fui a Jacarepaguá naquele ano assistir ao Prost vencer o Gp Brasil. No mesmo ano, ganhei de presente uma moto. Naquela época podíamos andar sem capacetes e o vento era inebriante sobre aquela CB450 a 120 km/h.
Meus pais moravam em uma cidade há 70 km da cidade onde eu fazia faculdade, apesar de um ou outro buraco, a estrada era boa entre as duas cidades. Não perdia a oportunidade de final de semana correr com minha moto em suas retas e curvas.
Em uma dessas viagens, em um vale como muitos no caminho, enquanto eu descia comecei a notar que um Veraneio vinha lento na direção contrária. O caminhão que vinha atrás dele parecia estar pressionando para que o Veraneio aumentasse a velocidade. Imaginando que havia algo errado eu fui reduzindo. Determinada hora, quando eu já estava mais tranqüilo o caminhão jogou de lado para fazer a ultrapassagem. Havia poucos metros entre eu e o caminhão. Não sei se ele me viu ou se apenas me ignorou, mas continuou acelerando. Não havia acostamento, tive que optar entre bater de frente com o caminhão, com o Veraneio ou jogar a moto para o mato. Em questão de milésimos joguei para direita e aquele momento mudou minha vida para sempre.