Copo de uísque

Um Cara Que Não Presta

Segue a descrição plagiada de um site: "O Cara Que Não Presta ao qual me refiro é aquele desgraçado que é inteligente, engraçado, divertido, culto, acha futebol um saco e nunca fala sobre carros. De preferência, ele nem sabe dirigir."

III
Sempre pensei, antes do acidente, que o déjà vu era algo como o retorno de som para um músico – enquanto você fala, ouve o que disse a alguns milésimos. Como se nossa vista registrasse duas vezes a mesma imagem para nosso cérebro, com um pequeno atraso entre uma e outra, fazendo com que pensássemos estar vendo algo já visto. Hoje eu digo, não é bem assim!
Ao acordar no dia seguinte ao acidente, no hospital, com minha perna esquerda elevada, dolorida e atravessada por diversos pinos que mais pareciam vigas de uma construção, notei que a luz branca já não estava por trás do que eu via.
Minha mãe, que tinha olheiras de uma provável noite sem dormir, me perguntou como eu estava. “Vivo” foi a resposta. Perguntou-me como foi o acidente, eu contei, mas não falei sobre o branco. Provavelmente ela diria que tinha sido algo do acidente. Seria? Estava certo que não.
Eu fiquei no hospital por mais duas semanas, havia risco de complicação. Meu osso tinha sido esfarelado. Confesso que não me importava com o fato da morfina fazer mal para o corpo. Tomaria até formol via oral para que aquela dor sumisse. E foi a morfina que me apagou por minha estada lá.
Na saída do hospital, enquanto estava sendo carregado por meu pai na cadeira de rodas, um grito fez com que meu pai girasse a cadeira, nesse momento novamente passei a ver duas coisas. Minha perna esticada batendo num suporte e derrubando alguns papeis de anotação dos enfermeiros. E por outro lado minha perna continuando em frente, sem meu pai se virar, sem esbarrão da perna. Dessa vez, não foi como a luz branca. Ela continuou.
Apesar de minha perna realmente ter batido, no fundo da visão ainda estava indo para a recepção. Enquanto o meu corpo realmente estava indo para recepção eu já havia chegado lá, olhava a parede. No mesmo momento em que minha visão de fundo subia para ver a recepcionista meu pai posicionava meu corpo no mesmo local, e eu subia a visão para recepcionista. Déjà-vu!
Minha visão voltou a ser uma só. E foi a visão mais bela de toda minha vida. Naquele dia, meu filho, vi pela primeira vez a sua mãe.