Copo de uísque

Um Cara Que Não Presta

Segue a descrição plagiada de um site: "O Cara Que Não Presta ao qual me refiro é aquele desgraçado que é inteligente, engraçado, divertido, culto, acha futebol um saco e nunca fala sobre carros. De preferência, ele nem sabe dirigir."

- É tudo estranho quando se tem quatorze anos (quase quinze) e ainda nunca ficou com ninguém, me sinto como um estranho no ninho.
- Mas e aquela guria que você me contou?
- Aquela... Apenas mais um sonho. Vamos, a aula vai começar!

Adolf já havia tentado ficar com diversas garotas, uma negação após a outra. Para seus amigos em geral dizia que já havia ficado com uma, porém para seu amigo Jorge, um amigo verdadeiro, não pode mentir.
Os dias foram se passando e seu aniversário chegando. Escorpiano, fazia aniversário apenas alguns dias depois do Halloween. Nesse 31 de outubro haveria um bingo da escola e todos seus amigos estariam em festas pela cidade, ele no bingo.
Em determinado dia Adolf seguiu no intervalo das aulas para o lugar onde ficava sua turma, ao lado sempre estava a turma das meninas da sala. Apesar das meninas, ele sempre se encaminhava para o local, pois era o único onde se encontrava uma planta, um trevo na verdade, o qual Adolf e seus amigos chamavam de “azedinho”. Lá eles devoravam o azedinho, sempre cuidando para que houvesse mais para os dias seguintes.
Naquele dia, por acaso, começou a papear com Andressa, um moça das mais inteligentes de sua turma. Morena, alta, de seios bem torneados para uma menina de quinze anos. Andressa despertava certo interesse na turma, porém, para Adolf, não passava de uma moça simpática que estudava em sua sala, duas fileiras ao lado.
Ao decorrer do papo ele notou que naquela manhã de primavera o frio chegou à escola. Adolf de prontidão tirou a blusa (não sei por que veio de blusa – dizia Jorge) e cedeu a Andressa, que rubrou e sorriu, fazendo com que as bochechas de Adolf queimassem por dentro.

- Se eu soubesse que abriria tal sorriso, traria a blusa todos os dias para lhe emprestar – brincando para tentar descontrair o local.
- Não precisa... – disse ela desviando o olhar e saindo do pátio.

O rapaz não pensou em pegar a blusa no dia, estava realmente frio. Um das coisas que seu pai sempre lhe ensinou é que mesmo com chuva, sol, vento ou calmaria, ele deveria ser cavalheiro, e assim seria. Acabou indo para a casa sem a blusa.
Na manhã seguinte recebeu de Rebeca sua blusa:

- A Andressa pediu que te entregasse ontem, mas não te vi na saída.
- Obrigado. Acabei ficando na quadra um pouco mais depois da aula. Mas onde está a Andressa?
- Não sei, acho que doente. Até – saiu Rebeca.

Mais um dia se passou e viu Andressa, mas só teve a oportunidade de conversar no final da aula quando essa veio lhe pedir o caderno emprestado, para recuperar a matéria. Ele lhe entregou o caderno na frente do colégio e foi para a casa.
O meio de Outubro chegou, com ele a semana de provas. Adolf estava revisando a matéria antes da aula quando Andressa chegou lhe entregando o caderno:

- Pode jogar na minha mesa, sem problemas.
- Mas...
- Deixa que eu coloco lá – Jorge, pegando o caderno da mão de Andressa – tenho que ver uma matéria mesmo.
- Mas... – Andressa olhou aflita para Adolf. Mas já era tarde.
- O que é isto? – gritou entre gargalhadas Jorge, colhendo diversos papéis que caiam do caderno – São cartinhas de amor para o Adolf? Que lindo Andressa!

Adolf olhava desconcertado para os papéis no chão, os olhos de Jorge, as lágrimas de Andressa que se sentava em silêncio. Partiu ao encontro de Jorge, pegando o caderno e as folhas. Sentando-se em sua cadeira.

- Depois conversamos.

Agora a sala toda sabia uma coisa que jamais Adolf havia percebido, e ele deveria tomar uma atitude. Atitude que ficou para o outro dia, pois Adolf acabara (mal-fizera) a prova antes dos outros e foi rápido para casa.

- Adolf, ela está apaixonada, você vai ficar com ela? – insistia Rebeca – Porque se não for tem que avisa-la. Ela já está sofrendo por causa do seu amigo babaca...
- Por que ela nunca me contou?
- Vai saber! Mas agora você já sabe. O colégio todo sabe.
- O que quer dizer, ou eu fico com ela, ou me torno o “viado” mais famoso do colégio.
- Você não quer ficar com ela?

Até aquele momento na verdade Adolf nunca tinha visto Andressa como uma potencial ficante. Agora, pensando bem, sabia que ela era atraente, e que ficaria, mas o problema era a pressão sobre ele. “E se der errado? E se eu não souber beijar?”. Todo o colégio saberia, sem exceção.

- Eu gosto dela, eu ficaria, mas...
- Então está certo. Você virá no bingo?
- Sim, por quê?
- as nove então. Eu marcarei com ela...
- Mas...

Rebeca já havia dado as costas. Foi direto ao encontro de Andressa, a qual Adolf viu abrir um sorriso, apesar de ele fazer tudo para não ser reparado.
O grande dia chegou. Rebeca veio ao encontro de Adolf e perguntou onde seria melhor para ele. Logo, vendo a indecisão de Adolf, mandou-o a uma obra da escola. Andressa após segundos o seguiu.

- Oi – falou ele, meio como um soluço, sem jeito.
- Oi – respondeu ela de forma contida.

O silêncio ficou longo, pareciam horas, quando Adolf temendo um fracasso ainda maior disse:

- Olha Andressa, tenho que te confessar. Nunca fiquei com ninguém na vida, não sei qual o primeiro passo, apesar de ter certeza que não é esse que estou dando. De qualquer forma, não queria te enganar.
Ela sorriu, e rubrou:

- Também nunca fiquei com ninguém...
- E agora? – perguntou Adolf já rindo da situação
- Eu não sei.

Nenhum segundo, quando após um “que tal”, Adolf beijou a boca de Andressa. Um selinho que se tornou beijo cinematográfico. Porém, com todo excesso de saliva que um primeiro beijo dispõe. Um beijo seguiu outro e ficaram ali por horas. Tudo indicava o começo de um relacionamento.
Na semana seguinte, segunda-feira, o assunto de todos tinha se tornado aquela noite. Todos queriam ver beijos. Apesar de o casal haver combinado de não se expor para o colégio, a pressão era grande.
Na terça-feira Andressa começou a abraçar outros caras para fazer ciúmes. As meninas abordavam Adolf de forma que este desse um beijo em Andressa, que anseia por este. No final da aula então ele a chamou e perguntou de forma séria:

- A gente não havia combinado de não se expor, e continuar ficando fora do colégio?
- Sim, mas elas são minhas amigas. E eu quero poder te beijar aqui.
- Então você realmente quer o beijo na frente de todo o colégio como elas me disseram?
- Sim, você não Adolf?
- Espere-me na frente do colégio.

Pouco tempo depois toda a turma estava na frente da entrada principal, esperando o espetáculo. Adolf, que tivera certas dúvidas, estava sendo escoltado para frente de Andressa. Quando chegou olhou bem para ela, para seus amigos, para o resto do povo, o sorveteiro, a secretaria, todos tinham parado para ver. Ele voltou os olhos para a menina na sua frente, ela havia mudado, de alguma forma, havia. Encostou seus lábios nos dela enquanto todos aplaudiam e gritavam. Aquele foi o melhor beijo que ele já havia dado. Ao descolar seus lábios ele olhou-a com um sorriso amável, colocou sua boca ao lado do ouvido dela e disse num sussurro:

- Acabou.

Adolf pegou suas coisas e se foi...