Sentado aqui hoje me pego a lembrar de um dia próximo. Era domingo, como hoje, um domingo no qual meu sono parecia não chegar.

Na minha cabeça, milhares de pensamentos, coisas a fazer, pessoas com as quais haveria de conversar, sonhos a realizar. Coisas, em geral, comuns, que passam e passam, até o dia em que deixam de ser pensamentos para se tornarem realidades, fatos.

Nessa noite, também chovia, eu ouvi um estranho choro, o seu choro, juntamente com gritos de dor.

Era estranho para mim, acreditar que justamente a pessoa que habitava “meus pensamentos”, chorava a menos de dois metros de mim. Aquela parede havia se tornado o símbolo de minha impotência. E a vergonha, que tinha de falar com você até aquele instante, se tornara o mar frio que nos separava. A única coisa que pude fazer foi torcer pelo melhor, e finalmente você dormiu, eu não.

No outro dia nos encontramos, eu voltando da faculdade e você me esperando para fechar o portão que havia segurado. Seu olhar como sempre o mesmo, com um brilho de quem precisa de algo, precisa de alguém.

Pela primeira vez tenho coragem e puxo um assunto, sei que são só alguns degraus na escada, mas o que importa? Eu já sei seu nome. Inacreditável, como seus olhos adquirem um brilho mais intenso a cada lance de escadas.

Você pára, eu continuo, com a alegria de ter te conhecido, e quando passa-se mais um lance, você surge atrás e me pergunta, com um lindo sorriso, o meu nome.

-Rafael, meu nome é Rafael!

Repito para que possas gravar, e com um sorriso mútuo nos despedimos, e eu vou dormir, sabendo que devo te conhecer melhor, pra quem sabe eu poder ser o amigo que não vai mais te deixar chorar...