Copo de uísque

Um Cara Que Não Presta

Segue a descrição plagiada de um site: "O Cara Que Não Presta ao qual me refiro é aquele desgraçado que é inteligente, engraçado, divertido, culto, acha futebol um saco e nunca fala sobre carros. De preferência, ele nem sabe dirigir."

Aos trinta...(parte III)

sábado, março 18, 2006
- E quem vem a ser esses “novos humanos” Vanessa?
- A pergunta ideal é “quem foram os novos humanos?”. Sei muito pouco a respeito deles. Apenas que era uma sociedade de poucas pessoas, que buscavam algo maior que o prazer. Ah, sim! Eles mantinham contato pela internet, hoje conhecida apenas como Gnet.
- É. Lembro-me bem quando o Google superou a Microsoft, levando esta a bancarrota.
- Eles escreviam todos seus progressos em blogs. Em alguns desses que encontrei essas informações.
- E o que é maior que o prazer?
- Acredito que seja o sentido da vida, Rafael. E acredito que o nome “novo” venha daí. Humanos que soubesse pra vieram ao mundo. Tenho o pensamento que eles encontraram o real sentido da vida, ou ao menos tinha esse pensamento.
- Como?
- Haviam três blogs em questão. Nos dois primeiros encontrei sobre o assunto. Pelo que vi era um casal que fazia parte dos “novos humanos”. E eles citavam um terceiro blog em diversos momentos, indiretamente.
Nesse momento um frio repentino correu minha espinha. Aquela moça acabara de descrever nosso grupo. Havíamos formado aquele grupo logo após um bate papo on-line, eu, minha namorada (que depois veio a ser minha esposa), Selph e Ban, que nesse momento já haviam se casado. Todos jovens começamos a utilizar nossos blogs (com exceção de Natalia que não escrevia) pra divulgar nosso pensamento. Acreditávamos sim que havia algo maior que o prazer, algo que fazia que estivéssemos juntos, casal por casal, através de toda distancia que já havia nos separado. E esse seria o motivo da vida, o outro. Eu sabia exatamente qual seria o próximo blog.
- Um cara que não presta. Esse era o nome. Justamente o mais importante. Porém estava em branco, ou melhor...
Realmente, logo após a tragédia que levara minha esposa, eu havia chegado a casa, sem nenhuma lágrima no olho e apaguei todos os arquivos daquele blog. Arquivos que mostravam um cara feliz. Eu não era mais aquele cara. Só umas frases restaram...
-... ele dizia “não existe diferença entre nós meus amigos, todos voltamos ao pó. E assim, os motivos”
Aquela frase que eu tentava afogar toda a minha vida, por três anos, num copo de whisky. E que em toda manha ainda surgia estampada na cara de meus alunos e eu respondia “no longo prazo? No longo prazo meu aluno, como diria Keynes, todos estarão mortos”.
- Eu preciso encontrá-lo, por isso vim até o senhor. Posts dos outros dois blogs sempre falam para que ele “saia da adega em que se encontra, em Curitiba e volte a viver”. E se ele vier a este bar penso que o senhor, que sempre está aqui como disse meu primo, possa conhecê-lo.
- Desculpa moça, só conheço rostos. Não tenho o costume de conversar. Em anos você é a primeira com quem converso, além dos garçons. Sinto muito...
Aquela conversa tinha ido muito longe, todos meus fantasmas estavam à tona. E tudo porque aquela moça queria descobrir o sentido da vida, me encontrara no gnet e pensara que eu poderia lhe dar a resposta.
- É, uma pena. Tenho um recado para ele, e a busca já é longa demais.
- Um recado? Que recado?
- Nem eu entendi direito, mas prometi que iria lhe entregar. Uns três anos aproximadamente eu estava vindo pra cá, havia acabado um namoro de dois anos com meu namorado, tinha que enfrentar os estudos. Tinha apenas dezoito anos e fazia cursinho em Curitiba. No ônibus da viagem uma moça, de uns 22, 23 anos, se sentou ao meu lado. Ela estava feliz, voltando pra casa. Mesmo assim ouvia meus lamentos, e na hora em que me abraçou pra conter minhas lágrimas aconteceu o acidente...
Não podia ser o mesmo acidente, impossível...
-... ela me salvou com seu corpo. Fiquei presa entre as ferragens com ela. As costas haviam sido perfuradas, e nos últimos segundos de vida ela me disse “procure os novos humanos, procure um cara que não presta”. Sem entender, e desesperada, perguntei quem eram eles. “Leve um recado a ele” cortou minha fala, após isso ela me disse o recado, e faleceu. Eu fui a única sobrevivente daquele acidente. Tentei falar com ele após o acidente, mas ele havia sumido. Desde então procuro ele, sem sucesso...
Eu estava petrificado. Eu que havia pensado que a garota ia apenas me agradecer. Eu que não quis a ver. Três anos na escuridão. Havia perdido as palavras e com elas os cincos sentidos. Qual seria o recado? O que minha amada lembrara de me dizer em seu ultimo instante?
-... mas é isso. De volta a procura – ela dizia se levantando da mesa, jogando seus cabelos para trás num movimento outrora atraente, pegando as chaves em cima da mesa.
- Mas – também me levantando – qual era o recado?
- Outra coisa que ainda não decifrei. “Te espero no México”.
Abaixei a cabeça, mil pensamentos na cabeça, os cabelos longos encobrindo o rosto. Todos me olhavam no bar, quando de súbito ergui a cabeça, rindo como quando “ela” me disse que me amava pela primeira vez. Todos os sentidos voltaram.
- Jorge, aqui esta o dinheiro pelo whisky.
- Senhor, mas aqui tem 100 reais?
- Fique com o troco. E você Vanessa, sua missão foi cumprida. – o sorriso já tocava as orelhas.
- Como minha missão...? Você?
- Sim, eu sou um cara que não presta. E adeus. – virei indo em sentido a porta.
- Mas e o que você vai fazer agora? – ela como se tivesse levado uma pancada.
- Eu? Haha. Eu estou indo pro México.



E finalmente, acordei. Sim leitores, isso tudo que vocês leram foi um sonho. Sonhado em diversas noites. Cada sonho uma diferente parte. Quando juntadas as partes o compreendimento. Tudo para dizer que te amo Natália (não precisa que você morra pra eu admitir isso haha).
Peço desculpas às pessoas citadas, Selph e Ban, porém vocês estavam lá. Mesmo que os meus pensamentos não condigam com os vossos na realidade e que nunca nos tornemos “tão” íntimos, vocês estavam lá. Querem saber o que eu sonhei a mais sobre vocês? Que vocês eram um casal tão “iluminado” que sua história tinha virado até livro haha. Eu tinha meu exemplar autografado.
e a vida, essa continua...