Pressupostos:
- Dona Joana;
- 11 filhos;
- aproximadamente 40 netos (incluindo eu)
- beata;
- paulista do interior (do tipo que fala porrrrta);
- casou pela segunda vez a poucos meses
- o marido bebe;
- língua preta (sabe aquelas pessoas que falam mal de tudo);
Quando se é criança uma avó dessas não é nada agradável, muito mais no meu caso que era um pestinha que me utilizava dos meus primos pra encobrir minhas artes. E ela como vó sabia quem fazia o que. Mas quando nos adulteramos, ops, digo, ficamos adultos, o respeito daquela velhinha fica maior, e passamos até a acreditar que ela gosta da gente. Por isso esse final de semana fomos, minha namorada e eu, na casa da dita cuja.
Entre as primeiras sentenças, voltadas à visita enquanto essa se abunda no sofá, está sempre à nota de falecimento de algum parente (primo do tio da mulher que é casada com meu primo de terceiro grau) muito amado e querido (sempre é, principalmente depois de morto). Mas o fato engraçado é o nome inventado para as doenças. Esses dias mesmo, meu tio morreu, precisavam ver como ela narrava sobre os “vrermes” que saiam do ouvido dele, e ele “caisdeque”(porque) não conseguia falar “caisquisfolazoreiafora” (quase que “esfola” a orelha fora).
- E o pior foi a ursa que atacou ele, Rafa. Precisava de vê!!!
- Mas ele não estava no hospital vó?
- Tava. Mas a ursa num teve dó e fez um buraco assim ó...
Alguns minutos e descobri que a “úlcera” do meu tio, tinha feito o sujeito agonizar seus últimos momentos.
Mas minha vó num fala só desgraça, descobri que tem uma menina muito mais língua preta que ela. Minha vó tinha ganhado duas cadelas “rótvaile”. Um dia a menina vai, brinca e brinca com uma das cachorrinhas. Ao sair a menina diz à minha avó:
- Dona Joana, eu adoraria ter um desses, mas sempre que gosto muito de um cachorro igual esse ele morre.
-Ai num deu outra Rafa, a menina saiu, a cachorra deitou e não levantou mais (nessa hora tremi na base) – minha vó com todo aquele olhar triste – Bem que eu podia ter mandado a menina beijar o cú dela (nesse momento eu engasguei).
- Cof..Cof...como vó? Beijar o cú de quem?
Ela me explicou que quando alguém ta de olho gordo em algo seu, é só mandar “beijar o cú” da coisa que “perde” o mau olhado. Já pensaram...
- Nossa, Rafael, como sua namorada é bonita.
- Gostou? Beija o cú dela! (mas nem fudendo)
Depois de acabado o almoço (sim, esse papo leve de doenças e talz foi à hora do almoço) chega o marido da minha avó, e ela já vai “pondo” um prato na mesa pro velho comer...
- Bassss, num brecizzza não, eu já almosssei
Nisso, Dona Joana, deu uma olhada pro cara, que até eu senti frio na espinha, e:
- O que?
- Nada não. – disse ele
E o velho, todo “pianinho” sentou pra comer.