- Durante o sono soltei a costura do cobertor, olha!
- Já devia estar solta, Rafael
- É, devia...
Mas não estava eu sei. Desde pequeno tenho esse “dom”. Apesar de meu sono ser pesado como o sono eterno de uma montanha. Ainda assim, consigo desatar três camadas de nós do meu cobertor. Nós que acordado não consigo soltar sem o auxilio de uma boa tesoura ou faca. Nós que não posso desatar sem cortá-los. Mas desato sem ao menos amassar a linha, durante o sono.
Quando pequeno qualquer coisa que tivesse nó e estivesse perto de mim durante a noite era simplesmente desatado. Porém, nunca me lembrava do que se passava. Agora grande desenvolvi (e ainda desenvolvo) uma capacidade, a de lembrar meus sonhos. Desde o cochilo no ônibus voltando pra casa, até em piscadas mais demoradas tenho estado em brigas, por qualquer motivo. E assim foi essa noite, briguei com várias pessoas, de porrada mesmo. E quando não tinha mais forças comecei a tossir, estava com a linha e parte da barra do cobertor me sufocando. Acordei.
Meu dia foi calmo, mas fiquei encucado. E agora, hora de ir pra cama, vou lá no varal, pegar meu edredom, aquele de bichinhos, que ganhei quando nasci, que mesmo molhado me dará um conforto maior.
Caso alguém tenha se preocupado com esse meu acesso de loucura, depressão e esquizofrenia, pode ficar tranqüilo, amanhã estará tudo bem. Afinal, eu sempre fico bem.