Ele acordou, já estava tarde. Arrumou sua mochila correndo, sentou na moto, e mal colocando o capacete saiu em disparado. Havia a possibilidade ainda, ele sabia. Todos os dias, nos últimos dois anos seguia a mesma rotina. Corria até o local certo, onde tudo ocorreria, e depois, somente depois, ele seguia para seu trabalho. Mas naquela quinta-feira ele resolveu dormir cinco minutos a mais. Hoje, não a veria. Hoje ela passaria e ele não estaria lá. Mas também, o que ele podia querer? Nunca havia puxado papo, apenas parava na frente do clube, que era caminho do trabalho dela. Esperava a moça passar, com um leve sorriso em seu rosto. E seguia para o trabalho. Era um amor platônico, jamais ele poderia tocá-la. Mesmo assim, o minuto em que suas vidas se cruzavam todo dia, era fundamental para que o dia fosse bom. Chegou ao clube, tirou o capacete, não viu o belo corpo da moça vindo ou indo. Virando-se sobre o banco, de forma que ficasse de costas ao guidão, ele viu suas esperanças se acabarem. Abaixou a cabeça e fechou os olhos, refletiu. Sabia ele quanto tinha sido cansativo a noite de quarta, e como estava cansado, precisando daqueles cinco minutos. Ele não estava arrependido, achava apenas que não podia ter deixado os cinco minutos se tornarem dez.
- Achei que você não viria hoje! - a voz mais doce o chamou a atenção. Era ela, sua musa.
- Eu...Você...voltou!?
- Fiquei preocupada - disse com o rosto ficando vermelho - já é a terceira vez que passo por aqui hoje, hehe.
- Nunca achei que...
- ...que eu te conhecia? Fazem dois anos e meio que te olho.
- Como dois anos e meio?
- Eu vinha antigamente pela rua ao lado, a rua de sua casa. Mas você um dia veio para essa rua, eu o segui.
- Mas...
- Bom saber que você está bem - disse ela já se despedindo com um sorriso
- Obrigado...obrigado por voltar...
- Te vejo amanhã? Como sempre...
- Como e para...
Ela se virou, seus cabelos lisos correram de lado. Ele sorriu.
Assim os dias voltaram a ser como eram, eles voltaram a ser felizes...ao menos no minuto em que suas vidas se cruzavam.
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Bom veneno - Nervoso
Pois o começo é sempre ligado ao fim
De algo bom ou de algo ruim
E o meu fim será o seu suplício
Pra eu poder voltar ao início