Num inicio da tarde toca meu telefone, atendo, ensaio da banda cancelado. Corro para pegar o ônibus no intuito de adiantar a viagem que me aguardava. O dia está nublado, o chão úmido, e um único passageiro aguarda no ponto. Aproximo-me do senhor e lhe peço um pouco de atenção. Assim conheci o contador de histórias:
- Boa tarde!!!
- Boa tarde! – respondeu-me com um sorriso simpático.
- Qual linha o senhor aguarda?
Nesse momento o senhor parou como se nunca alguém houvesse feito tal pergunta. Engoliu então seu receio e novamente sorriu.
- Espero a linha 177.
Correndo os olhos da tabela de horários ao meu relógio comentei:
- Ela só passa daqui uma hora...
- Exato – antes que eu continuasse – e você, qual aguarda?
- A metropolitana, estou indo a Paranavaí, família, namorada, sabe como é... De qualquer forma, qual seu nome?
- Celimar Turoko, mas os amigos me chamam de Cecé. O seu?
- Rafael Fermiano, prazer.
- Prazer.
Nos dois minutos que seguiram ficamos em silêncio. Não olhamos um para o outro, apenas para a rua. A metropolitana demoraria uma hora e meia pra passar, logo eu teria um bom tempo com aquele senhor, um bom tempo...
Esse sempre foi um ótimo dia quando eu era pequeno. Geralmente as aulas de educação física, inglês ou natação, eram marcadas pras segundas, quartas e sextas. Assim terça era um dia livre de "compromissos". A terça também era o dia em que o clube retomava funcionamento normal e eu podia nadar até meus dedos enrugarem. Tudo era ótimo na terça.
Depois de “adulto” (período no qual trabalhamos) passei a ver a terça de uma forma diferente. Para entendermos isso temos que partir da segunda.
Segunda-feira toca o celular, bato a mão nele e aciono a “soneca”, oito minutos(que mais parecem dez segundos) depois, ele volta a tocar. Até que tenho que sair da toca e ir trabalhar. No trabalho, toda segunda é um inferno. Quando se olha já é dezoito horas e vou pra casa. Chego tão acabado que até dormir faz com que meu corpo doa.
Chega a terça, o celular toca, normalmente eu já estou acordado. Mesmo assim bato no celular que entra na “soneca”. Ela dura oito minutos (dez horas), eu que já estou arrumado parto para o serviço. Faço tudo que me desesperou na segunda em dez minutos, e cada hora demora mais pra passar, isso vai até o final do dia.
Minha terça-feira tem no mínimo 48 horas a mais de duração que qualquer outro dia, e por estar perto da segunda(que tem um quarto de um dia normal) fica mais chata ainda.
Preferia aquele tempo que era a terça que passava rápido, enquanto meus dedos se enrugavam, em que eu não fazia nada a tarde e não tivesse que me recuperar da segunda.